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Nasci no ano de 1962, na cidade do Rio de Janeiro,
Brasil, filho de Vera da Conceição Cruz, uma guerreira que me criou e educou
sem um companheiro, pois o meu pai, que era comprometido com outra família,
apesar de dizer que me amava, não acompanhou o meu desenvolvimento, deixando a
minha querida mãe com a responsabilidade de cuidar de uma criança com
limitações de saúde física, e dentro de um cenário de pobreza, tanto espiritual
quanto material, pois na noite em que eu estava para nascer, a minha mãe estava
servindo aos espíritos enganadores, dentro de um centro espírita, sendo
achincalhada por eles, a ponto de apressar o meu nascimento, por conta de uma
noite de servidão e humilhação aos espíritos malignos.
Alguns detalhes obviamente não poderão ser relatados para
não comprometer e magoar algumas pessoas, que apesar de estarem no engano,
ajudaram minha mãe, uma mãe-solteira e muito nova, que sem a ajuda dessas
pessoas, a tarefa de me criar em meio às limitações circunstanciais seria muito
mais difícil.
Este texto não objetiva relatar toda a minha trajetória de
vida até o momento, mas penso que para o entendimento dos leitores, a
necessidade de alguns relatos se torna essencial, tendo em vista a necessidade
da compreensão mais abrangente de alguns aspectos familiares, que não somente
eu acredito ter vivenciado e estar vivenciando, possibilitando assim, a
contextualização dos fatos relatados e também dos encaminhamentos propostos,
para que uma família seja mais saudável, aos olhos de Deus.
Dando continuação ao relato dos meus primeiros momentos
de vida familiar, o testemunho de algumas pessoas que participaram direta e
indiretamente do meu desenvolvimento, dão conta que para a minha mãe foi muito difícil
cuidar de uma criança, conforme relatado antes, com uma saúde física precária.
Tive nos meus primeiros anos de vida, simultaneamente, enfermidades que
exigiram de minha mãe um desempenho singular na luta para que eu pudesse passar
por tudo aquilo sem que a morte me tragasse, (crupe, meningite e sarampo).
Os
relatos dão conta que algumas pessoas falavam para a minha mãe que não tinha
mais jeito, ou seja, o melhor mesmo seria que ela desistisse e me deixasse
morrer, pois eu tinha três enfermidades cruéis, especialmente para aquela época
em que os recursos eram mais limitados, que aos olhos de uma pessoa sem
esperança e sem determinação, não daria para tentar mais nada objetivando
reverter aquele quadro de enfermidade.
As forças que minha querida mãe obteve, com certeza
vinham de Deus, apesar dela não o conhecer, o que só veio fazer por meu
intermédio na minha adolescência, quando me converti e a levei conhecer Aquele
que nos sustentou e haveria de continuar sustentando ao longo de nossas vidas.
Isso mesmo, aquela que lutou para que eu sobrevivesse, agora passou a ser a
minha “filha na fé”, Glórias a Deus!
Um dos pontos marcantes no início da minha vida foi que
apesar de sofrer muito por isso, mesmo sem ter conhecimento bíblico até então, a
minha mãe resistiu e não me entregou para os espíritos enganadores no centro
espírita, por saber que aquele tipo de vida não seria o ideal para mim. Isso
nos causou muitos problemas, pelo fato dela ter lutado sozinha, sem nenhuma
orientação espiritual para o enfrentamento, o que não recomendo a ninguém, pois
contra hostes espirituais da maldade, somente sob a proteção do Senhor, ou
melhor, somente o Senhor tem o poder necessário para esse tipo de enfrentamento.
Temos
de fato que estar sob a Sua potente mão, e deixarmos que Ele lute por nós. Mas,
apesar de tantas lutas e sofrimentos, minha mãe obteve a vitória tão esperada.
Hoje, sou um servo do Deus Altíssimo, protegido das investidas do inimigo de nossas
almas.
Na minha parentela, por não terem conhecimento bíblico e
muito menos intimidade com o Senhor, a dependência de espíritos malignos era
factual e também influenciava diretamente no ambiente familiar, a ponto de ter
em todas as residências, objetos de idolatria e, também, um sincretismo
religioso muito forte.
Na
realidade, por conta disso tudo, fui criado em um ambiente promíscuo e sem base
doutrinária saudável. Com absoluta certeza, isso influenciou muito na minha
formação religiosa, causando-me dúvidas e mais dúvidas ao longo de muitos anos,
levando-me também a ter contato com diversos grupos religiosos e envolvimento
direto e indireto com doutrinas que me afastavam cada dia mais, do Verdadeiro
Deus e Senhor, o que foi acertado, e dou louvores a Deus por isso, somente no
meio da minha adolescência. Aleluia!
Família pobre, mãe guerreira, demanda grande!
Minha
mãe, por ser a filha mais velha de sete irmãos, sentia a necessidade iminente
de ajudar a todos, o que era feito de maneira muito aguerrida, catando xepa
(alimentos descartados) nas feiras, algumas vezes, para ajudar dentro de casa
e, também, trabalhando em residências como diarista, para poder dar de alimento
a todos os seus irmãos e mãe. Isso a fortaleceu muito, possibilitando que a
luta relatada acima nos meus primeiros anos de vida, ela enfrentasse de maneira
eficaz, tendo esperança viva de que conseguiria vencer, como venceu, inclusive,
vindo aprender a ler, somente anos mais tarde, pelo antigo MOBRAL.
Outra
batalha enfrentada por minha mãe foi a necessidade de me dar atenção e ao mesmo
tempo providenciar o nosso sustento, tendo ainda como agravante, conforme
relatado acima, a necessidade de ajudar no sustento dos seus irmãos. Isso foi
uma dificuldade bastante expressiva, já que eu não me adaptava em ambiente
algum que ela não estivesse fazendo parte.
Hoje,
entendo que todo o meu comportamento inadequado que, aliás, era muito notório
entre todos os que conviviam conosco, sendo até hoje, fruto de comentários por
amigos e ex-vizinhos daquela época, era devido a sua falta, que por conta de
ter que trabalhar em vários empregos, não tinha tempo para estar comigo.
A
questão era que ninguém conseguia ficar comigo, pois eu era muito arteiro e
insubordinado. Isso acarretou em prejuízo familiar grande, pois para que minha
mãe conseguisse continuar trabalhando para o nosso sustento, necessário se fez
providenciar um internato que eu pudesse ser cuidado e ela pudesse trabalhar,
sabendo que eu estava estudando e sendo alimentado, vindo para casa somente nos
finais de semana, quando eu podia me deleitar na sua adorável companhia
(saudades).
Esse
fato realmente propiciou uma mudança radical em nossas vidas, quando longe do
seu convívio tive que aprender a viver com pessoas diferentes, de diferentes
famílias e com costumes totalmente diferentes daqueles que eu estava
acostumado. Foi cruel, mas necessário, pois assim tive um amadurecimento que
muito contribuiu para o meu desenvolvimento intelectual, educacional e me
propiciou uma formação mais ampla e mais próxima da realidade da vida, já que
aprendi conviver com diferentes estruturas familiares, por conta de ter naquela
instituição uma diversidade muito grande de pessoas com diferentes estruturas
familiares. Que aprendizado!
A
falta do meu pai ao nosso lado me fez e até hoje me faz, muita falta mesmo.
Conjecturo se tivéssemos convivido juntos, como família funcional, a minha
trajetória seria muito diferente e melhor.
As
circunstâncias não me propiciaram isso, já que além de não ter tido contato com
o meu pai desde aproximadamente uns quatro anos de vida, por conta de questões
pessoais e justificáveis, fatos que não relatarei aqui por não achar propício,
pois a minha mãe não permitia nem sequer que cogitasse essa possibilidade,
coibindo também, quaisquer tipos de ajuda nesse sentido, de quaisquer pessoas
que pudesse me propiciar isso. Ainda hoje lamento, mas sempre compreendi a
posição de minha mãe e nunca quis contrariá-la.
Sei
que tudo isso aos olhos de quem não conviveu diretamente com essa situação,
parece muito complicado de entender o porquê, mas apesar dos pesares, me sinto
feliz e convivo bem com um passado bastante conturbado, por não ter uma família
tão bem estruturada.
Para
mim, toda essa questão está bem resolvida, pelo menos eu acho!
É claro que não
foi tão fácil assim, mas o tempo e a maturidade me propiciaram essa compreensão
e também me ajudaram a aceitar toda essa situação, não me impedindo que constituísse
família e aproveitasse tudo isso para estruturar a minha família aos moldes da
minha visão de “perfeição familiar”. Consegui aproveitar toda controvérsia que
me proporcionaria um futuro familiar doentio em aprendizado e determinação,
para que hoje eu tenha uma família que está voltada para agradar ao Senhor e
comprometida em promover felicidade mútua.
Vera
da Conceição Cruz, mulher guerreira e determinada, que hoje está nos braços do
Pai, de saudosa e mui saudosa lembrança, conseguiu me criar com todas as
limitações impostas pelas circunstâncias, teve a alegria de ter mais um filho,
a minha querida irmã, Mônica, que em 1977, veio fazer parte da nossa família,
mas desfrutando, graças a Deus, de um período bem melhor, no que se diz
respeito a questões estruturais, mas que também exigiu de nossa mãe, um esforço
extraordinário, para que ela também pudesse resistir às dificuldades, que
apesar de serem menores, mais ainda eram bastante acentuadas.
Também
teve a alegria de ver o seu filho crescido, formado, tendo constituído uma
família que lhe deu dois netos, Matheus e Thiago, que ainda lhe proporcionaram
alegrias por participarem até os dezesseis e quatorze anos de idade,
respectivamente, de sua história de vida. Lembro-me ainda com bastante intensidade,
os olhares de minha mãe contemplando os seus netos ao seu redor, como quem
tivesse pensando no que havia passado e até onde tinha chegado. Que lindo!
Sei
que hoje a minha estrutura familiar deve muito ao meu passado, mas por causa do
revigoramento vivenciado por mim aos longos dos anos, continuo crescendo, sem
nunca deixar de buscar nas circunstâncias passadas, aprendizado e forças para
continuar crescer e ajudar os meus familiares, mulher e filhos, a crescerem.