quarta-feira, 14 de outubro de 2015

E assim começou!

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         Nasci no ano de 1962, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, filho de Vera da Conceição Cruz, uma guerreira que me criou e educou sem um companheiro, pois o meu pai, que era comprometido com outra família, apesar de dizer que me amava, não acompanhou o meu desenvolvimento, deixando a minha querida mãe com a responsabilidade de cuidar de uma criança com limitações de saúde física, e dentro de um cenário de pobreza, tanto espiritual quanto material, pois na noite em que eu estava para nascer, a minha mãe estava servindo aos espíritos enganadores, dentro de um centro espírita, sendo achincalhada por eles, a ponto de apressar o meu nascimento, por conta de uma noite de servidão e humilhação aos espíritos malignos.
            Alguns detalhes obviamente não poderão ser relatados para não comprometer e magoar algumas pessoas, que apesar de estarem no engano, ajudaram minha mãe, uma mãe-solteira e muito nova, que sem a ajuda dessas pessoas, a tarefa de me criar em meio às limitações circunstanciais seria muito mais difícil.
              Este texto não objetiva relatar toda a minha trajetória de vida até o momento, mas penso que para o entendimento dos leitores, a necessidade de alguns relatos se torna essencial, tendo em vista a necessidade da compreensão mais abrangente de alguns aspectos familiares, que não somente eu acredito ter vivenciado e estar vivenciando, possibilitando assim, a contextualização dos fatos relatados e também dos encaminhamentos propostos, para que uma família seja mais saudável, aos olhos de Deus.
          Dando continuação ao relato dos meus primeiros momentos de vida familiar, o testemunho de algumas pessoas que participaram direta e indiretamente do meu desenvolvimento, dão conta que para a minha mãe foi muito difícil cuidar de uma criança, conforme relatado antes, com uma saúde física precária. Tive nos meus primeiros anos de vida, simultaneamente, enfermidades que exigiram de minha mãe um desempenho singular na luta para que eu pudesse passar por tudo aquilo sem que a morte me tragasse, (crupe, meningite e sarampo).
   Os relatos dão conta que algumas pessoas falavam para a minha mãe que não tinha mais jeito, ou seja, o melhor mesmo seria que ela desistisse e me deixasse morrer, pois eu tinha três enfermidades cruéis, especialmente para aquela época em que os recursos eram mais limitados, que aos olhos de uma pessoa sem esperança e sem determinação, não daria para tentar mais nada objetivando reverter aquele quadro de enfermidade.
            As forças que minha querida mãe obteve, com certeza vinham de Deus, apesar dela não o conhecer, o que só veio fazer por meu intermédio na minha adolescência, quando me converti e a levei conhecer Aquele que nos sustentou e haveria de continuar sustentando ao longo de nossas vidas. Isso mesmo, aquela que lutou para que eu sobrevivesse, agora passou a ser a minha “filha na fé”, Glórias a Deus!
             Um dos pontos marcantes no início da minha vida foi que apesar de sofrer muito por isso, mesmo sem ter conhecimento bíblico até então, a minha mãe resistiu e não me entregou para os espíritos enganadores no centro espírita, por saber que aquele tipo de vida não seria o ideal para mim. Isso nos causou muitos problemas, pelo fato dela ter lutado sozinha, sem nenhuma orientação espiritual para o enfrentamento, o que não recomendo a ninguém, pois contra hostes espirituais da maldade, somente sob a proteção do Senhor, ou melhor, somente o Senhor tem o poder necessário para esse tipo de enfrentamento.
   Temos de fato que estar sob a Sua potente mão, e deixarmos que Ele lute por nós. Mas, apesar de tantas lutas e sofrimentos, minha mãe obteve a vitória tão esperada. Hoje, sou um servo do Deus Altíssimo, protegido das investidas do inimigo de nossas almas.
              Na minha parentela, por não terem conhecimento bíblico e muito menos intimidade com o Senhor, a dependência de espíritos malignos era factual e também influenciava diretamente no ambiente familiar, a ponto de ter em todas as residências, objetos de idolatria e, também, um sincretismo religioso muito forte.
  Na realidade, por conta disso tudo, fui criado em um ambiente promíscuo e sem base doutrinária saudável. Com absoluta certeza, isso influenciou muito na minha formação religiosa, causando-me dúvidas e mais dúvidas ao longo de muitos anos, levando-me também a ter contato com diversos grupos religiosos e envolvimento direto e indireto com doutrinas que me afastavam cada dia mais, do Verdadeiro Deus e Senhor, o que foi acertado, e dou louvores a Deus por isso, somente no meio da minha adolescência. Aleluia!
            Família pobre, mãe guerreira, demanda grande!
 Minha mãe, por ser a filha mais velha de sete irmãos, sentia a necessidade iminente de ajudar a todos, o que era feito de maneira muito aguerrida, catando xepa (alimentos descartados) nas feiras, algumas vezes, para ajudar dentro de casa e, também, trabalhando em residências como diarista, para poder dar de alimento a todos os seus irmãos e mãe. Isso a fortaleceu muito, possibilitando que a luta relatada acima nos meus primeiros anos de vida, ela enfrentasse de maneira eficaz, tendo esperança viva de que conseguiria vencer, como venceu, inclusive, vindo aprender a ler, somente anos mais tarde, pelo antigo MOBRAL.
Outra batalha enfrentada por minha mãe foi a necessidade de me dar atenção e ao mesmo tempo providenciar o nosso sustento, tendo ainda como agravante, conforme relatado acima, a necessidade de ajudar no sustento dos seus irmãos. Isso foi uma dificuldade bastante expressiva, já que eu não me adaptava em ambiente algum que ela não estivesse fazendo parte.
Hoje, entendo que todo o meu comportamento inadequado que, aliás, era muito notório entre todos os que conviviam conosco, sendo até hoje, fruto de comentários por amigos e ex-vizinhos daquela época, era devido a sua falta, que por conta de ter que trabalhar em vários empregos, não tinha tempo para estar comigo.
A questão era que ninguém conseguia ficar comigo, pois eu era muito arteiro e insubordinado. Isso acarretou em prejuízo familiar grande, pois para que minha mãe conseguisse continuar trabalhando para o nosso sustento, necessário se fez providenciar um internato que eu pudesse ser cuidado e ela pudesse trabalhar, sabendo que eu estava estudando e sendo alimentado, vindo para casa somente nos finais de semana, quando eu podia me deleitar na sua adorável companhia (saudades).
Esse fato realmente propiciou uma mudança radical em nossas vidas, quando longe do seu convívio tive que aprender a viver com pessoas diferentes, de diferentes famílias e com costumes totalmente diferentes daqueles que eu estava acostumado. Foi cruel, mas necessário, pois assim tive um amadurecimento que muito contribuiu para o meu desenvolvimento intelectual, educacional e me propiciou uma formação mais ampla e mais próxima da realidade da vida, já que aprendi conviver com diferentes estruturas familiares, por conta de ter naquela instituição uma diversidade muito grande de pessoas com diferentes estruturas familiares. Que aprendizado!
A falta do meu pai ao nosso lado me fez e até hoje me faz, muita falta mesmo. Conjecturo se tivéssemos convivido juntos, como família funcional, a minha trajetória seria muito diferente e melhor.
As circunstâncias não me propiciaram isso, já que além de não ter tido contato com o meu pai desde aproximadamente uns quatro anos de vida, por conta de questões pessoais e justificáveis, fatos que não relatarei aqui por não achar propício, pois a minha mãe não permitia nem sequer que cogitasse essa possibilidade, coibindo também, quaisquer tipos de ajuda nesse sentido, de quaisquer pessoas que pudesse me propiciar isso. Ainda hoje lamento, mas sempre compreendi a posição de minha mãe e nunca quis contrariá-la.
Sei que tudo isso aos olhos de quem não conviveu diretamente com essa situação, parece muito complicado de entender o porquê, mas apesar dos pesares, me sinto feliz e convivo bem com um passado bastante conturbado, por não ter uma família tão bem estruturada.
Para mim, toda essa questão está bem resolvida, pelo menos eu acho!
É claro que não foi tão fácil assim, mas o tempo e a maturidade me propiciaram essa compreensão e também me ajudaram a aceitar toda essa situação, não me impedindo que constituísse família e aproveitasse tudo isso para estruturar a minha família aos moldes da minha visão de “perfeição familiar”. Consegui aproveitar toda controvérsia que me proporcionaria um futuro familiar doentio em aprendizado e determinação, para que hoje eu tenha uma família que está voltada para agradar ao Senhor e comprometida em promover felicidade mútua.
Vera da Conceição Cruz, mulher guerreira e determinada, que hoje está nos braços do Pai, de saudosa e mui saudosa lembrança, conseguiu me criar com todas as limitações impostas pelas circunstâncias, teve a alegria de ter mais um filho, a minha querida irmã, Mônica, que em 1977, veio fazer parte da nossa família, mas desfrutando, graças a Deus, de um período bem melhor, no que se diz respeito a questões estruturais, mas que também exigiu de nossa mãe, um esforço extraordinário, para que ela também pudesse resistir às dificuldades, que apesar de serem menores, mais ainda eram bastante acentuadas.
Também teve a alegria de ver o seu filho crescido, formado, tendo constituído uma família que lhe deu dois netos, Matheus e Thiago, que ainda lhe proporcionaram alegrias por participarem até os dezesseis e quatorze anos de idade, respectivamente, de sua história de vida. Lembro-me ainda com bastante intensidade, os olhares de minha mãe contemplando os seus netos ao seu redor, como quem tivesse pensando no que havia passado e até onde tinha chegado. Que lindo!
Sei que hoje a minha estrutura familiar deve muito ao meu passado, mas por causa do revigoramento vivenciado por mim aos longos dos anos, continuo crescendo, sem nunca deixar de buscar nas circunstâncias passadas, aprendizado e forças para continuar crescer e ajudar os meus familiares, mulher e filhos, a crescerem.

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